Filosofia Analítica: Origem, Contexto e Expoentes

  Filosofia Analítica: Origem, Contexto e Expoentes


A filosofia analítica é uma tradição filosófica que emergiu no final do século XIX e no início do século XX,na Áustria, Alemanha e Inglaterra, posteriormente nos Estados Unidos. Ela é caracterizada por sua ênfase na lógica, na linguagem e na clareza conceitual. Ela se desenvolveu em contrapartida a outras abordagens filosóficas mais especulativas e menos rigorosas, como o idealismo alemão e certas vertentes do historicismo. Vamos explorar suas origens, contexto histórico, principais expoentes e aspectos centrais como a teoria da figuração e a virada linguística, especialmente por meio da obra de Ludwig Wittgenstein.


Origem e Contexto

A filosofia analítica não é uma corrente filosófica, mas sim uma metodologia de estudo ou análise dos problemas filosóficos. Ela nasceu no cenário europeu, particularmente no mundo anglo-saxão, como uma tentativa de renovar a filosofia por meio do rigor lógico e da clareza linguística. Dois grandes eventos marcam seu surgimento:

  1. A Revolução da Lógica Matemática: Iniciada pelos trabalhos de Gottlob Frege, Bertrand Russell e Alfred North Whitehead, que culminaram na obra monumental Principia Mathematica (1910-1913). Eles buscaram fundamentar a matemática na lógica, criando sistemas formais rigorosos.

  2. A Crítica ao Idealismo Alemão: Filósofos como Russell e G. E. Moore se opuseram à tradição hegeliana, adotando uma abordagem mais direta e empírica para problemas filosóficos.

O contexto histórico também incluiu os avanços da ciência moderna, que influenciaram o desejo de tornar a filosofia mais científica e menos especulativa.


Principais Expoentes

1. Gottlob Frege (1848-1925)


Considerado o fundador da filosofia analítica, Frege desenvolveu a lógica moderna e introduziu conceitos como a distinção entre sentido (Sinn) e referência (Bedeutung). Sua obra principal, Begriffsschrift (1879), estabeleceu as bases para a lógica proposicional. Oposição à lógica simbólica aristotélica, onde a lógica se resume no sujeito e no predicado. Segundo ele é necessário buscar o argumento e função/sentido e referência das palavras para a compreensão do problema filosófico. Exemplo: Vênus é um planeta, mas também é chamado de estrela da noite e estrela da manhã. Nesse caso, Vênus é a referência da frase. No mundo existem vários nomes iguais para coisas ou até pessoas diferentes.

2. Bertrand Russell (1872-1970)

Russell é famoso por seu trabalho na lógica e na filosofia da linguagem. Sua teoria das descrições (“Sobre a Denotação”, 1905) é um marco na filosofia analítica, demonstrando como resolver problemas filosóficos por meio da análise linguística. Os problemas filosóficos são problemas de má compreensão. Se opõe à Kant e ao idealismo alemão. O


conhecimento matemático, por exemplo, é uma linguagem à priori. Dessa forma deve-se verificar a verdade pela definição dos termos. Para ele as definições vagas devem ser substituídas por termos precisos. Nesse caso não existiria a poesia ou o humor porque a linguagem dúbia não seria utilizada. Na filosofia analítica incorpora-se a matemática e poderosas técnicas lógicas, chegando-se a resultados definitivos. Isto acontece pois filósofos analíticos atacam os problemas um de cada vez, provando ou refutando hipóteses sobre aspectos específicos do mundo, da linguagem ou da mente humana.

3. G. E. Moore (1873-1958)

Moore contribuiu com sua ênfase na clareza e na defesa do senso comum, contrapondo-se ao idealismo. Sua obra “A Defesa do Senso Comum” é um exemplo de sua abordagem.

4. Ludwig Wittgenstein (1889-1951)

Wittgenstein é, sem dúvida, uma figura central na filosofia analítica, tendo revolucionado a área em duas fases distintas de sua obra.


Teoria da Figuração e a Primeira Fase de Wittgenstein

Na primeira fase de sua carreira, Wittgenstein publicou Tractatus Logico-Philosophicus (1921), onde apresentou a "teoria da figuração". Essa teoria afirma que:

  1. A Linguagem Reflete o Mundo: As proposições da linguagem são figuras ou representações do mundo. Cada proposição é um modelo da realidade.

  2. Estrutura Lógica: A linguagem tem uma estrutura lógica que espelha a estrutura do mundo. Assim, a compreensão de uma frase implica compreender as relações lógicas que ela representa.

  3. Limites da Linguagem: Wittgenstein argumentou que tudo o que pode ser dito com sentido está dentro dos limites da lógica; aquilo que está além da linguagem é inefável (por exemplo, ética, estética e metafísica). Ele é chamado de positivista lógico por defender o abandono completo da metafísica. Sua frase: “Sobre o que não se pode falar, deve-se calar.” onde ele quer dizer que tudo o que se pode falar está dentro do nosso mundo, ou seja, o que não está em nosso mundo deve-se calar.


A Virada Linguística

A “virada linguística” é um marco na filosofia analítica, indicando uma mudança no foco da investigação filosófica. Em vez de priorizar a relação entre pensamento e realidade, os filósofos passaram a investigar como a linguagem molda nossa compreensão do mundo.


Segunda Fase de Wittgenstein

Em sua segunda fase, apresentada em Investigações Filosóficas (1953), Wittgenstein rejeitou muitas ideias do Tractatus e argumentou que:

  1. A Linguagem é uma Atividade Social: Ele introduziu o conceito de "jogos de linguagem", onde o significado das palavras é determinado pelo uso que fazemos delas em contextos sociais.

  2. Contra a Essencialidade: Wittgenstein criticou a ideia de que as palavras têm significados fixos ou essenciais, defendendo que o significado emerge de usos diversos.

  3. Problemas Filosóficos como Confusão Lingüística: Muitos problemas filosóficos são, na verdade, resultado de confusões no uso da linguagem. Resolver esses problemas requer esclarecer como usamos as palavras.


Legado da Filosofia Analítica

A filosofia analítica teve um impacto profundo em várias áreas, como filosofia da mente, filosofia da ciência e ética. Ela continua sendo uma das tradições dominantes na filosofia contemporânea, especialmente em países anglo-saxões.

Conclusão

A filosofia analítica, desde suas origens com Frege e Russell até as contribuições revolucionárias de Wittgenstein, moldou profundamente o modo como entendemos a linguagem, a lógica e os problemas filosóficos. A transição para a virada linguística trouxe um novo horizonte de investigações, destacando o papel central da linguagem na nossa compreensão do mundo e na resolução de problemas filosóficos.

A FILOSOFIA ANALÍTICA NA PRÁTICA

A filosofia analítica é uma abordagem caracterizada pela clareza, rigor lógico e análise conceitual. Ela pode nos ajudar a compreender o mundo melhor ao fornecer ferramentas para examinar criticamente nossas crenças, conceitos e argumentos. Aqui está um exemplo prática de como essa abordagem pode ser aplicada:

Clarificação de Conceitos Ambíguos

Por exemplo, no debate sobre a inteligência artificial (IA), frequentemente usamos termos como "consciência", "inteligência" e "autonomia". A filosofia analítica nos ajuda a definir esses conceitos com precisão, distinguindo entre inteligência sintética (capacidade de processamento de dados) e consciência fenomenológica (experiência subjetiva), permitindo discussões mais produtivas e informadas.

Outro exemplo é sobre a alma, pois existem grandes diferenças entre os conceitos de alma de Platão e Aristóteles. Em que Platão usa a palavra alma para definir a essência do ser humano e ele acreditava que essa essência era algo real e espiritual, e que na hora da morte saia do corpo humano. Já Aristóteles compreendia alma como o sopor de vida, a animação (movimento) dos seres vivos. E isso incluia os homens, animais e plantas. Quando esse ser vivo morria, sua alma morria junto. São conceitos bem diferentes, ainda mais quando colocamos do lado do conceito cristão de alma.

Definir os conceitos, esclarecer os significados, eliminar as ambiguidades é essencial para uma clara compressão do problema filosófico. Ora, segundo a filosofia analítica se o mundo é descrito por palavras, é fundamental escolher bem as palavras. Ao alcançar a perfeita compreensão da linguagem, os problemas filosóficos iriam se dissolver naturalmente e toda a realidade poderia ser conhecida na sua totalidade.


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